Acolhimento contra a pobreza através do trabalho

01/10/2017 09:42
Postado Por Josenildo Melo
Jornalista MTB DRT PI 01958 - Credenciado Vaticanista
 
Papa Francisco \ Viagens
Bolonha, Angelus: acolhimento e luta contra a pobreza através do trabalho
 
(01/10), o Santo Padre visitou a cidade de Cesena, por ocasião dos 300 anos de nascimento do Papa Pio VI, natural daquela cidade.
A seguir, deslocou-se de helicóptero para a grande cidade de Bolonha, por ocasião do Congresso Eucarístico diocesano. Seu primeiro encontro na cidade, desejado por ele, foi no Porto, onde encontrou cerca de mil migrantes e assistentes sociais do centro regional bolonhês.
No porto, disse o Papa, ancoram os que vêm de longe, apesar de tantos sacrifícios, e, às vezes, não são bem vindos e até criticados e julgados com frieza por tantas pessoas, sem conhecer seus problemas de fundo.
 
Por outro lado, Francisco agradeceu a todos os que prestam auxílio e assistência aos estrangeiros que vêm “bater à nossa porta”. Desde sempre, “Cristo se identifica com eles”. Sobre a migração, afirmou:
 
“Este fenômeno requer visão e grande determinação na gestão, inteligência e estruturas, mecanismos claros, que não permitam distorções ou exploração, sobretudo por serem pessoas pobres. É preciso que outros países adotem programas de apoio e acolhimento, abram corredores humanitários para os refugiados. Que haja integração!”.
 
Os numerosos migrantes, entre os quais muitas crianças e mulheres, disse Francisco, “lutam pela esperança e pela sua sobrevivência”. Quantos, em busca de esperança e prosperidade, não tiveram a sorte de tocar terra firme, porque perderam suas vidas no mar ou no deserto. Neste sentido, o Papa elogiou a cidade:
 
“Bolonha é uma cidade conhecida, desde sempre, pelo seu acolhimento. Ela se renovou com suas experiências de solidariedade e hospitalidade nas paróquias, centros sociais e religiosos, e nas famílias. A cidade não deve ter medo de dar ‘cinco pães e dois peixes’ aos necessitados. A Providência intervirá e satisfará a todos”.
 
Francisco concluiu seu discurso aos inúmeros migrantes no Porto de Bolonha, recordando que, “há 760 anos, esta cidade foi a primeira na Europa a liberar 5855 escravos. Assim, como outrora, seus habitantes não têm medo de acolher tantas pessoas, que chegam de países pobres, em busca de felicidade, esperança e prosperidade.
 
Do porto, o Santo Padre se deslocou, de papamóvel, à Praça Maior de Bolonha, onde era aguardado por uma multidão de pessoas desempregadas e membros representantes do mundo do trabalho, com os quais Francisco rezou a oração mariana do Angelus.
Antes, porém, o Papa proferiu um discurso, dizendo:
 
“Vocês representam diversas partes sociais, muitas vezes em discussão até ásperas, mas aprenderam que, somente juntos, se pode superar a crise e construir o futuro. Somente o diálogo permite encontrar respostas eficazes e inovadoras, sobretudo no que se refere à qualidade do trabalho e o indispensável bem estar de todos.”
 
São necessárias soluções estáveis, frisou Francisco, capazes de ajudar, as pessoas e as famílias, a encarar o futuro. Nunca rebaixem a solidariedade ao nível da lógica do lucro financeiro, disse o Papa, porque, desta forma, a arrancamos, ou melhor, a roubamos dos mais frágeis, que têm tanta necessidade.
 
Tornar a sociedade mais justa, explicou Francisco, não é um sonho do passado, mas um compromisso, um trabalho que precisa de todos nós. Aqui, o Papa tocou a chaga dolorosa do desemprego, sobretudo juvenil, e de tantos que perderam o trabalho e não conseguem se inserir na sociedade:
 
“O acolhimento e a luta contra a pobreza passam, em grande parte, através do trabalho. Não se pode oferecer ajuda aos pobres sem dar-lhes trabalho e dignidade”.
 
A crise econômica tem uma dimensão europeia e global, concluiu o Papa, mas, como sabemos é também uma crise ética, espiritual e humana. Na sua raiz, há traição do bem comum, por parte de indivíduos e de grupos no poder. Logo, é preciso eliminar a centralidade da lei do lucro e transferi-la à pessoa e ao bem comum.
 
Depois da oração do Angelus, o Santo Padre deixou a Praça Maior de Bolonha, situada diante da Basílica de São Petrônio. Nos recintos da Basílica, o Papa almoçou com os pobres, os refugiados e encarcerados, aos quais disse:
 
“Vocês estão ao centro desta casa, a igreja. Ela é de todos, sobretudo dos pobres. Todos somos convidados como comensais. Jesus, em sua casa, não descarta e nem despreza ninguém. Pelo contrário, come, bebe, caminha e sofre conosco”.
 
Ao término do encontro convivial, o Papa disse aos presentes: “Agora lhes será oferecido o alimento mais precioso: o Evangelho, a Palavra de Deus, que levamos em nosso coração. É um presente dado a todos, mas, de modo particular, aos que mais precisam. Levem-no consigo como sinal da amizade pessoal com Deus, que, conosco, se faz peregrino e sem-teto.