Combate ao terrorismo tem que ser repensado

14/11/2015 15:23

Combate ao terrorismo tem que ser repensado

Ricardo Noblat

 

Em mais um espetáculo de horror patrocinado supostamente pela organização terrorista Estado Islâmico, cerca de 150 pessoas foram mortas em Paris, 80 atravessaram esta madrugada com ferimentos e em estado grave, e pelo menos mais 200 foram para casa ou ainda repousam em hospitais com ferimentos leves.

O banho de sangue chocou o mundo e reforçou mais uma vez a forte impressão de que a política contra o terror, assim como foi concebida e está sendo executada pelos Estados Unidos e países aliados, não deu certo até aqui. Pelo contrário: o terror cresceu desde os ataques de 11 de setembro de 2011.

Nas últimas duas semanas, atentados terroristas atingiram Egito, Rússia, Líbano e agora a França. No Líbano, anteontem, um duplo atentado suicida contra um reduto do Hezbollah, na periferia de Beirute, deixou 43 mortos e mais de 200 feridos. Morreram 224 pessoas no avião russo derrubado no Sinai egípcio.

Lembra da Al-Qaeda de Osama Bin Laden? Seu líder foi morto pelos Estados Unidos. A organização perdeu a importância. Foi suplantada amplamente pelo Estado Islâmico, que luta para criar um califado na Síria, recruta jovens na Europa, espalha sua mensagem pelo mundo e detona bombas por toda parte.

Relatório do governo dos Estados Unidos, divulgado em junto último, concluiu que os ataques terroristas no mundo aumentaram em 35% em 2014 frente ao ano anterior. Mais de 60% deles concentraram-se no Iraque, Paquistão, Afeganistão, Índia e Nigéria. Ontem, finalmente, o terror atingiu o coração da Europa.

Todo indica que pela primeira vez, homens-bomba deixaram seus países para se imolar em atentados em terras estranhas. Células terroristas adormecidas em Paris acordaram para cometer o mais trágico ataque da história recente da França. Há, hoje, naquele país, cerca de 5 mil suspeitos que o governo não dá conta de monitorar.

É provável que terroristas treinados no Oriente Médio estejam entrando neste momento em vários países da Europa como se fossem refugiados políticos em busca de trabalho e paz. Não há como impedir tal infiltração. Ou não foi descoberta ainda uma maneira eficiente e segura de detê-la.

Sempre se dirá que o terrorismo estaria pior se não fosse enfrentado com os métodos atuais. Pode ser. Mas esses métodos não têm bastado. É mais do que hora de rediscuti-los. 

Vítimas atingidas por tiros na porta do restaurante La Bell Equipe (Foto: Anne Sophie Chaisemartin / AP)

 

Por Ricardo Noblat - O Globo - Blog do Noblat