Conheça os Puritanos - O sofrimento e o soberano
CONHEÇA OS PURITANOS - O sofrimento e o soberano
Por Philip Ryken
Uma das primeiras pessoas que espero encontrar no céu é o teólogo escocês Thomas Boston. Admiro o homem pela profundidade de sua teologia; Jonathan Edwards disse que o trabalho de Boston sobre os convênios o distinguia como um "verdadeiramente grande divino". Também admiro a amplitude de seus escritos: doze grossos volumes em quase todas as doutrinas da fé cristã, ensinados em todos os livros da Bíblia. Admiro Thomas Boston ainda mais por sua fidelidade como pastor por mais de vinte e cinco anos na mesma paróquia rural. Mas eu o admiro principalmente por sua perseverança através do sofrimento.
Thomas Boston era um homem melancólico, propenso a épocas de desânimo na vida cristã. Ele estava com problemas de saúde, mesmo que nunca perdesse a vez no púlpito. Sua esposa sofria de uma doença crônica do corpo, e talvez também da mente. Mas talvez o maior julgamento do casal tenha sido a morte de seus filhos: eles perderam seis de seus dez bebês.
Uma perda foi especialmente trágica. Boston já havia perdido um filho chamado Ebenezer, que na Bíblia significa "Até agora o Senhor nos ajudou" ( 1 Sam. 7:12 KJV ). Quando sua esposa deu à luz outro filho, ele considerou nomear o novo filho de Ebenezer também. No entanto, o ministro hesitou. Nomear o menino Ebenezer seria um testemunho de esperança na fidelidade de Deus. Mas e se essa criança também morresse e a família tivesse que enterrar outro Ebenezer? Seria uma perda muito amarga para suportar. Pela fé, Boston decidiu nomear seu filho Ebenezer. No entanto, a criança estava doente e, apesar das orações urgentes de seus pais, nunca se recuperou. Como o pai enlutado escreveu em suas Memórias, "agradou ao Senhor que ele também foi removido de mim".
Depois de sofrer uma perda tão pesada, muitas pessoas seriam tentadas a abandonar o ministério, discutir com Deus ou até abandonar sua fé. Thomas Boston não fez nada disso; ele continuou acreditando na bondade e na soberania de Deus. Em vez de se afastar do Senhor em tempos de provação, ele se voltou para o Senhor em busca de ajuda e consolo.
A perseverança de Boston através do sofrimento é digna não apenas de nossa admiração, mas também de nossa imitação. Uma maneira de aprender com seu exemplo é ler seu sermão clássico sobre a soberania de Deus, que é uma das últimas coisas que ele preparou para publicação antes de morrer. Boston chamou seu sermão de The Crook in the Lot . Foi baseado no comando e na pergunta que lemos em Eclesiastes 7:13 :
"Considere a obra de Deus: quem pode corrigir o que ele fez torto?"
O comando neste versículo é um chamado para uma observação cuidadosa da maneira como Deus trabalha. O homem que escreveu Eclesiastes - o Pregador que se chamava Qoheleth e que pode muito bem ter sido o próprio rei Salomão - notou com atenção o mundo ao seu redor. Ele estudou as estações da vida, aprendendo quando chegara a hora e o tempo para isso. Ele observou como as pessoas trabalhavam e brincavam. Ele viu como eles viviam e como eles morreram. Aqui no capítulo sete, ele convida os leitores a considerar a obra de Deus no mundo e, em seguida, faz uma pergunta retórica.
Então, como responderíamos a ele? Quem tem o poder de endireitar o que Deus fez torto? A resposta, é claro, não é ninguém . As coisas são do jeito que Deus quer que sejam; não temos a capacidade de anular o Todo-Poderoso.
Quando o pregador fala sobre algo "torto", ele não está se referindo a algo moralmente fora de linha, como se Deus pudesse ser o autor do mal. Em vez disso, ele está falando sobre algum problema ou dificuldade na vida que desejamos poder mudar, mas não podemos. Isso acontece com todos nós. Lutamos com as limitações físicas de nossos corpos. Sofremos o colapso dos relacionamentos pessoais ou familiares. Temos algo que desejamos que não tivéssemos, ou não temos algo que desejamos que tivéssemos. Mais cedo ou mais tarde, há algo na vida que desejamos que Deus tivesse uma forma diferente. Qual é a única coisa que você mudaria em sua vida, se tivesse o poder de mudar?
Deus deu a cada um de nós uma situação diferente na vida. Thomas Boston explicou assim: "Existe um certo trem ou curso de eventos, pela providência de Deus, caindo sobre cada um de nós durante nossa vida neste mundo: e esse é o nosso destino, como nos é atribuído pela Deus soberano. " Todos nós temos nossa própria vida e todos temos coisas que desejamos poder mudar:
Nesse trem ou curso de eventos, alguns caem sobre nós e contra a corrente; e estes fazem o trapaceiro em nosso lugar. Enquanto estivermos aqui, haverá eventos cruzados, bem como agradáveis, em nosso lote e condição. Às vezes, as coisas estão suaves e agradáveis; mas, pouco a pouco, há algum incidente que altera esse curso, nos irrita e nos doe .... Todo o corpo de todo mundo tem algum trapaceiro nele .... Não há perfeição aqui, nem muito do céu sem bandido.
"O que Deus vê encontrar para estragar", como disse Boston, "não seremos capazes de consertar ..." [6] Mas nem Boston nem o Pregador eram fatalistas! Em vez disso, procuraram enquadrar suas situações em termos da soberania de Deus. De acordo com Boston, essa visão "é um meio adequado, ao mesmo tempo silenciar e satisfazer os homens, e, assim, levá-los a uma submissão obediente ao seu Criador e Governador, sob o trapaceiro de seu lote".
Estamos sob o poder do soberano e onipotente governante do universo. Não temos o poder de editar Seu plano para nossas vidas. Mas longe de nos levar ao desespero, a soberania de Deus nos dá esperança em todas as provações da vida. Sofremos a frustração da vida em um mundo caído. Mas a Bíblia diz que sofremos essas coisas pela vontade de um Deus que planeja libertar-nos de toda essa futilidade, e que está trabalhando todas as coisas juntas para o nosso bem ( Rom. 8:20 , 28 ).
Philip Ryken (PhD, Oxford) é o professor da Bíblia no Every Last Word, uma transmissão de rádio semanal da Alliance of Confessing Evangelicals. O Dr. Ryken também atua como presidente do Wheaton College. Ele é o autor e editor de vários livros, incluindo Art for God's God e Grace Transforming. Quando ele não está pregando ou brincando com seus filhos, o Dr. Ryken gosta de jogar basquete e refletir sobre a relação entre o cristianismo e a cultura americana.