Dilma isolada e novo protesto marcam 7 de Setembro em Brasília

07/09/2015 19:48

Dilma isolada e novo protesto marcam 7 de Setembro em Brasília

Presidente assistiu ao desfile calada e sob forte esquema de segurança. Assim que deixou o local, manifestação teve início. Boneco 'Pixuleko' reapareceu – e teve companhia

Por: Laryssa Borges e Ana Clara Costa, de Brasília

 

forte esquema de segurança livrou a presidente Dilma Rousseff de encarar os manifestantes durante o desfile oficial de 7 de Setembro nesta segunda-feira. Mas a Esplanada dos Ministérios se tornou palco de protestos contra o governo e o Partido dos Trabalhadores assim que as comemorações oficiais foram encerradas. Na sequência, o ato seguiu para o Congresso Nacional, onde terminou por volta das 14 horas. Ao fim do desfile, manifestantes chegaram a quebrar boa parte das grades e do muro que cercavam as comemorações oficiais no Dia da Independência. Com o Palácio do Planalto diretamente arrastado para o centro da Operação Lava Jato, Dilma assistiu ao desfile calada - e se pronunciou apenas por meio de um vídeo divulgado nas redes sociais.

Caminhões de som acompanharam o protesto ao longo do trajeto entre a Esplanada e o Congresso. A Polícia Militar estima que 500 pessoas tenham aderido à manifestação. Grande estrela dos protestos de 16 de agosto, o boneco inflável Pixuleko, que representa o ex-presidente Lula com roupas de presidiário, também esteve em Brasília. E desta vez ganhou companhia: uma boneca com as feições da presidente Dilma e um grande nariz de Pinóquio. Os mascotes de 12 metros de altura, providenciados pelos movimentos que pedem a saída da presidente, foram montados no início da manhã na região da Rodoviária de Brasília, a pouco mais de 1 quilômetro do Congresso Nacional.

Protestos - A representação do ex-presidente Lula como presidiário, batizada pelos idealizadores do protesto como Pixuleko, deve seguir agora para capitais do Nordeste, onde também haverá atos contra os sucessivos escândalos de corrupção. O boneco da presidente Dilma ainda não recebeu um nome oficial, mas era chamado pelos organizadores por variações como Dilmaluca, Pixuleca, Rivotrilma, Dilmandioca e Pinóquia. A exemplo da versão inflada do padrinho político, o boneco da petista também deve viajar pelo Brasil. Os fortes ventos na região da Esplanada dos Ministérios prejudicaram a exposição dos dois mascotes. Ambos rasgaram e tiveram de ser sucessivamente remendados ao longo do protesto. "É uma cirurgia de emergência. Só estamos salvando os dois bonecos para ver Lula e Dilma presos", disse Fátima Della, do Movimento Brasil (MBR). Pequenos bonecos de cerca de 50 cm também representando o ex-presidente Lula como presidiário foram vendidos pelos organizadores ao custo de 10 reais cada.

A exemplo dos demais protestos em Brasília, uma longa faixa com os dizeres "Impeachment Já" foi carregada pelos manifestantes por um trajeto de cerca de 2 quilômetros. Panelaço e palavras de apoio ao juiz Sergio Moro, que conduz os processos da Operação Lava Jato em Curitiba, e de críticas ao ex-ministro José Dirceu, preso pelo escândalo do petrolão marcaram a manifestação antigoverno em Brasília. Houve ainda críticas à possibilidade de o Supremo Tribunal Federal (STF) descriminalizar o porte de drogas para consumo pessoal e coleta de assinaturas para projetos de lei de iniciativa popular conhecidos como "Dez Medidas Contra a Corrupção".

Tumulto - Um princípio de tumulto foi registrado às 11h50 quando parte dos manifestantes começaram a derrubar os tapumes de alumínio instalados ao longo de toda a Esplanada para separar o protesto do desfile cívico do 7 de Setembro. Os tapumes foram colocados pela primeira vez no desfile de 2013, ano em que as manifestações populares de rua ganharam intensidade. Apesar do apelo dos organizadores do protesto para que não houvesse vandalismo, os tapumes foram destruídos, pichados e retorcidos. Do outro lado da rua, um pequeno grupo faria um ato de apoio ao governo da presidente Dilma. Houve xingamentos e parte dos manifestantes atiraram objetos. A Polícia conteve o tumulto com sirenes e spray de pimenta. De acordo com a Polícia Militar, ao longo do protesto de 7 de Setembro foram apreendidos artefatos explosivos, canos de PVC, facas e tesouras. Pelo menos três pessoas foram levadas para a delegacia de polícia por portarem drogas. No início do protesto, o grupo Resistência Popular colocou fogo em pneus na altura da Rodoviária de Brasília para protestar contra a falta de moradias populares.

Desfile - Pela manhã, a presidente apareceu em público pela primeira vez ao lado do vice-presidente Michel Temer após ele ter dito que ela não aguentaria terminar o mandado sem apoio político. Foi também a primeira aparição de Dilma depois de o Supremo Tribunal Federal autorizar investigações contra dois ministros com gabinete no Planalto: Edinho Silva (Comunicação Social) e Aloizio Mercadante (Casa Civil). Ambos foram citados pelo delator do petrolão Ricardo Pessoa, dono da UTC, em depoimentos à força-tarefa da Lava Jato, conforme revelou VEJA. Ao término do desfile, Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma à reeleição no ano passado, afirmou que recebeu com "tranquilidade" a notícia. "Quando cheguei como coordenador da campanha, já tínhamos investigação em andamento. Eu segui as orientações da presidente Dilma, ou seja, conversei com empresários brasileiros seguindo os princípios éticos e morais", afirmou. Já Mercadante saiu sem falar com a imprensa.

Entre as informações demolidoras repassadas por Pessoa está a de que foi com a verba desviada da Petrobras que a UTC doou dinheiro para as campanhas de Lula em 2006 e de Dilma em 2014. E mais: o empreiteiro delatou as somas que entregou aos donos do poder, segundo ele, mediante achaques e chantagens. Pessoa afirmou que foi pressionado por Edinho Silva a doar 10 milhões de reais. Acabou repassando somente 7,5 milhões porque foi preso antes de completar o montante pedido. Pessoa declarou ainda que foram feitos repasses milionários para as campanhas eleitorais de Mercadante ao governo paulista, em 2010. O dinheiro também teria sido repassado para a campanha do senador tucano Aloysio Nunes, contra quem o STF também autorizou abertura de inquérito.

Diante do agravamento da crise política, apenas um ministro do PMDB compareceu ao desfile: o titular da Pesca, Helder Barbalho. Também faltaram os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Eduardo Cunha. Temer assistiu ao desfile ao lado da presidente, com quem interagiu em alguns momentos, sempre em companhia de Jaques Wagner (Defesa). Pouco antes das 11 horas, antes da apresentação da Esquadrilha da Fumaça, a presidente e o vice deixaram o local - em carros separados.