Editorial do Jornal Diário do Povo do Piauí

06/09/2017 11:46
Mais uma missão cumprida
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Edição do dia 6 de setembro de 2017
 
Editorial do Jornal Diário do Povo do Piauí
 
Há algumas semanas, o jornal Diário do Povo, cumprindo o seu papel, denunciou a inconstitucionalidade de um projeto de Lei enviado pelo governador Wellington Dias que, em seu artigo 80, criava uma bolha de proteção em torno, especificamente , do gestor da pasta da Educação, no caso em tela, sua própria esposa, a deputada federal Rejane Dias. Ontem, o Governador do Estado recuou da proposta inicial, reconhecimento tácito da inconstitucionalidade da proposta.
 
A reportagem do Dário do Povo custou mais um processo movido contra o jornal e seu presidente, o empresário Fábio de Melo Sérvio. Wellington Dias alega, mais uma vez, danos morais. É o segundo processo movido contra o órgão de imprensa. Reafirmamos que o governador tem todo o direito de buscar a justiça se sentir feridos os seus direitos, mas o Diário permanecesse convicto em sua linha editorial de que tem o dever de buscar a verdade dos fatos. A mudança no projeto de Lei, que agora em nova redação se adequa à Lei de improbidade, por si, demonstra a falha evidente. O Diário do povo cumpriu o seu papel de alertar a falha e fez a defesa dos interesses coletivos, acima, sempre dos interesses individuais de quem quer que seja, por mais poderoso que seja. A matéria apontou a falha e o perigo em se proteger especificamente um gestor público, correndo o risco de isentá-lo de responsabilidades constitucionais, inerentes a quem se predispõe a realizar atos e gerir verbas públicas. Se o preço por defender a sociedade for o Jornal e o empresário que o dirige serem processados, é algo necessário para o pleno exercício da democracia e do controle social.
 
Contamos com o apoio da sociedade, dos nossos leitores, no entendimento de que, acima de tudo, um veículo de comunicação da envergadura do Diário do Povo não pode silenciar diante das pressões econômicas exercidas quando interesses políticos são contrariados. A cada dia, demonstramos nossa independência, a seriedade do jornalismo praticado por toda a equipe de repórteres e, principalmente o pleno exercício da liberdade de imprensa. Há 30 anos, essa tem sido a linha editorial deste jornal, não raras foram as vezes que o Diário sofreu retaliações ao longo da sua história, a primeira delas, o corte nas verbas públicas de publicidade.
 
São raros os governantes que entendem a necessidade de uma imprensa livre. Mais raros ainda são aqueles que conseguem conviver com críticas às suas gestões. No Piauí não poderia ser diferente. Entretanto, a mais importante, transparente e valorosa receita de um jornal é aquela originada dos seus assinantes. A nossa liberdade é garantida pelos nossos leitores, que entendem a importância de um veículo sem amarras e dependências econômicas.
 
E é assim que nos últimos meses, o Diário do Povo tem crescido sua circulação, ampliando a venda de seus exemplares em bancas de revisa e no número de assinaturas. Uma demonstração de reconhecimento da sociedade diante da hercúlea batalha de se fazer um jornalismo comprometido, não com um governo, seja qual for, mas com uma sociedade inteira. "Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade", disse certa vez William Randolph Hearst, empresário americano dono de uma rede jornais no século XIX. Talvez por isso o leitor não veja mais nas páginas do Diário do Povo nenhuma propaganda do governo Wellington Dias.