Governo mais corrupto da história nacional

11/10/2021 17:53

A era Lula tem a imagem do governo mais corrupto da história nacional

Campanha eleitoral é basicamente apresentar-se como o inimigo número 1 da ladroagem. Sem poder fazer isso, o sujeito sai por baixo

Redação –Revista Oeste

Parece que todas as chances de Lula se resumem em jogar parado

Parece que todas as chances de Lula se resumem em jogar parado | Foto: Divulgação/PT

(J.R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 10 de outubro de 2021)

O ex-presidente Lula começa a armar a sua campanha para as eleições de 2022 e, naturalmente, tem diante de si o que deveria ser a pergunta-chave de todo candidato na hora da largada: o que eu vou dizer para o eleitorado, de hoje até outubro do ano que vem? Não pode ser qualquer bobagem. Vai ser preciso, na prática e no fim das contas, dizer coisas que convençam o público de que ele, Lula, é melhor que o adversário, Jair Bolsonaro — sem isso, nada feito.

Como diria um comunicador moderno, Lula terá de selecionar suas “pautas” — palavra que se usa, hoje em dia, quando alguém quer dizer “assunto”. Deixe-se de lado o que já se sabe que qualquer pretendente ao cargo vai fazer, do primeiro ao último dia da campanha: falar que Bolsonaro é o pior de todos os presidentes que o país já teve; ou o Brasil acaba com Bolsonaro, como deveria fazer com a saúva, ou Bolsonaro acaba com o Brasil. Tudo bem — e, além disso?

Além disso, pelo que se pode ver hoje, é um problema. O difícil, para Lula, não é tanto achar o que dizer em seu favor durante a batalha pelo voto. A dificuldade, mesmo, é saber que ele não vai poder usar em nenhum momento da disputa a “pauta” da corrupção. Não é pouca coisa. Campanha eleitoral, neste país, é basicamente chamar o outro candidato de ladrão e apresentar-se como o inimigo número 1 da ladroagem. Sem poder fazer esse número, o sujeito já sai por baixo.

Lula, naturalmente, não pode fazer isso — com a sua folha corrida, que inclui um ano e sete meses de cadeia fechada por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, a última palavra que ele quer usar numa campanha é “corrupção”. É possível que tentem, claro, mas nem o diretor mais otimista de um instituto de pesquisa de votos acharia que um negócio desses vai dar certo. Eis aí o candidato do “campo progressista”, portanto, desprovido de uma “pauta” fundamental — como foi para Jânio, Collor, Bolsonaro e também ele, Lula, em todas as suas campanhas, salvo a da sua própria reeleição.

Quem terá de tomar cuidado com essa história de corrupção, ao contrário, é ele mesmo, Lula. É complicado, na verdade, você ser candidato à Presidência da República se é, ao mesmo tempo, o único presidente do Brasil condenado oficialmente como ladrão, por nove juízes diferentes, em terceira e última instância. Fazer o quê? É assim que ficou. A era Lula, seja lá o que ele próprio acha, tem a imagem do governo mais corrupto da história nacional — um tempo em que as empreiteiras de obras públicas governaram o país, ao lado dos fornecedores da Petrobras, dos operadores dos fundos de pensão das empresas estatais e das gangues expostas pela Operação Lava Jato.

Parece pouco promissor, a esse propósito, o truque de dizer que Lula foi “absolvido” e que a “Justiça” reconheceu a sua “inocência”. Ele não foi absolvido de coisa nenhuma — apenas ganhou de presente do STF a anulação dos seus quatro processos penais e a licença para se candidatar à eleição de 2022, com ficha suja e tudo. Dizer que você está solto por causa do STF, naturalmente, não é nada que possa melhorar a sua reputação pessoal hoje em dia; é exatamente o contrário, e por isso imagina-se que Lula não vai ficar falando no assunto. Quem quer ter a sua reputação atestada por um tribunal que solta traficantes de droga de primeiro grau? Quem quer aparecer num palanque eleitoral abraçado com o ministro Gilmar Mendes, por exemplo? Não dá.

Desde o início, e cada vez mais, parece que todas as chances de Lula se resumem em jogar parado; é falar pouco, fazer menos, e esperar que Bolsonaro funcione como o seu grande cabo eleitoral. É arriscado, claro. Mas, no momento, é o que temos.