Mais viva do que nunca

22/08/2015 22:51

Heron Guimarães

Mais viva do que nunca

 

            Fernando Henrique Cardoso precipitou-se ao sugerir que Dilma Rousseff estaria fazendo um “gesto de grandeza” ao renunciar ao cargo de presidente da República. A declaração, fartamente repercutida nos veículos de comunicação de todo o país, foi feita por meio do Facebook do líder tucano, em 16 de agosto, o dia das manifestações em favor do impeachment. Serviu apenas para atiçar a militância de esquerda e os movimentos sindicais.

            Talvez empolgado com o grande número de pessoas nas ruas, apesar de as estatísticas apontarem para um movimento menor em relação à primeira onda de manifestações contra o PT e o governo, em março deste ano, FHC não imaginava que o clima de Brasília e, por consequência, do país se inclinasse sensivelmente para o lado da presidente.

            A verdade é que, desde o programa apresentado por José de Abreu, o esforço do governo de se rearticular está surtindo efeito, mesmo com PIB decrescente, inflação e desemprego em alta e atividade econômica quase parando. O programa, ironicamente, criticou o panelaço e, por seu tom de enfrentamento, conseguiu resgatar o espírito combativo de militantes que andavam cabisbaixos.

            Com a entrada do ministro Edinho Silva na pasta da Comunicação, um petista de carteira com enorme capacidade de articulação, os ares começaram, mesmo que lentamente, a se desanuviar. À chacoalhada do programa televisivo sucederam-se atos políticos e sociais importantes para manter a presidente no cargo.

            Para isso, a estratégia de sustentação baseou-se em uma tríplice ação. O governo reforçou sua agenda externa, os movimentos sociais foram para as ruas, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acabou sendo denunciado antes de qualquer petista com foro privilegiado, absorvendo em si boa parte dos desgastes da operação Lava Jato.

            Mesmo que não tenha feito ingerência nas decisões do procurador geral, Dilma ainda se fortaleceu ao dar sinal verde para a recondução de Rodrigo Janot, o que, por ora, abafa as perversas pretensões de seu adversário mais perigoso.

            Ao conseguir pôr gente na rua, mesmo que ligada à CUT e a outros movimentos da cozinha do governo, a presidente marcou alguns pontos. Institucionalmente, a presença de Ângela Merkel no Brasil, quando um primeiro-ministro europeu anunciava sua renúncia, também contribuiu com a agenda positiva.

            A paz no Palácio do Planalto ainda está longe de ser realidade, e as dificuldades da presidente para recuperar sua popularidade ainda parecem intransponíveis. Porém, a ideia de afastamento, impedimento ou renúncia está se dispersando.

            A conclusão que se tira é que, entre o domingo de protestos e a quinta de denúncias do MPF, Dilma mostra que está mais viva do que nunca.