NEWS: Vender o almoço para comprar o jantar

13/04/2020 15:11

Vender o almoço para comprar o jantar

Por https://www.universal.org/

De um lado, grande parcela da população mundial e seus representantes no poder aderindo à quarentena por causa da pandemia da Covid-19, o novo coronavírus. Algumas empresas mandaram os funcionários para casa em regime de home office, sem saber ao certo quanto duraria a quarentena.

De outro, líderes políticos e empresários preocupados com o impacto negativo que a quarentena causará, durante e depois de sua duração, na economia não só das empresas, mas de nações inteiras, de cada família e de cada indivíduo.

Há, inclusive, alguns patrões que têm preocupações quanto aos dois lados da questão. Querem dar segurança a seus funcionários, dando-lhes férias ou permitindo o home office, mas veem seus empreendimentos ameaçados, já que as projeções sobre pandemia e economia não são nada otimistas.

Quanto a um horizonte nada promissor para a economia, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), o etíope Tedros Adhanom, expressou sua preocupação: “cresci pobre e entendo essa realidade. Convoco os países a desenvolverem políticas que forneçam proteção econômica às pessoas que não possam receber ou trabalhar devido à pandemia da Covid-19. Solidariedade”.
Adhanom continua a aconselhar o isolamento, mas pede que sejam levadas em consideração as pessoas com poucos recursos no mundo todo. O dilema é grande: permanecer em casa e parar parte da indústria e do comércio para se preservar ou trabalhar para ganhar dinheiro? Não é fácil decidir entre se arriscar a uma possível contaminação ou morrer de fome.

O jornal espanhol El País divulga que economistas e historiadores comparam a crise prestes a acontecer com a chamada Grande Recessão de 1929, a maior da história. 

“É a combinação de uma doença ameaçadora para todo o mundo e de um impacto econômico que conduzirá a uma recessão sem precedentes”, considera o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, também vislumbrando não só um futuro, mas um presente nada favorável, cercado dos dois lados por perigos reais.

No Brasil, o quadro segue esse temido padrão. O governo federal diminuiu a estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano de 2,1% para 0,02%. No mundo, as previsões são de um prejuízo de US$ 1 trilhão à economia global em 2020, segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad).

A saúde ou a comida?
E em casa o que as famílias temem? Um vendedor ambulante de frutas de São Paulo, em pleno serviço nas ruas, disse em entrevista à rede francesa TV5 Monde: “medo eu tenho, mas tenho família também”. A opção dele é óbvia. Não há outra. É vender o almoço para comprar o jantar.

A BBC Brasil entrevistou o líder comunitário Celso Athayde, fundador da Central Única das Favelas (Cufa), entidade assistencial que age no Brasil todo, que lembra que os chefes de família que ganham por semana não estão recebendo. Alguns patrões perderam seus negócios, a comida comprada está acabando, as crianças, que antes comiam a merenda na escola, não estão mais fazendo essa refeição. Muitos entraram na linha da pobreza “da noite para o dia”, considera o ativista. São 13,5 milhões os brasileiros que moram nessas comunidades.

É preciso tomar cuidado e ficar em casa o máximo possível, mas também é preciso comer e pagar as contas. Como fazer?

A situação piora ainda mais ao atestarmos que a pandemia de Covid-19 pegou a economia brasileira com a imunidade fragilizada.