O Trabalho não pode ser uma mera engrenagem

08/11/2015 00:03

O Papa: direito ao trabalho, direito ao descanso

L’Osservatore Romano

«É vergonhoso!»: não usa meios termos o Papa Francisco perante as situações «de desemprego, injustiça social, trabalho não declarado, precariedade» assim «tão forte» hoje no mundo, na Itália e mesmo em Roma. Uma consideração acrescentada de forma improvisada ao discurso preparado para os vinte e três mil funcionários e dirigentes do Instituto nacional de previdência social (Inps), que vieram de todas as partes Itália para o encontro realizado na praça de São Pedro.

 

Francisco quis contextualizar a sua reflexão – focalizada inteiramente no «direito ao descanso - inserindo-a «na sociedade hodierna, com os seus equilíbrios difíceis e a fragilidade das suas relações», e no mundo do trabalho «atormentado pela insuficiência de emprego e pela precariedade das garantias que consegue oferecer». Por conseguinte, fez surgir um interrogativo que interpela as consciências: «Se vivermos deste modo – questionou-se – como é possível descansar? O repouso é o direito que todos temos quanto trabalhamos». Ao contrário, são cada vez mais os desempregados, os desesperados prontos a aceitar qualquer emprego e qualquer condição, sofrendo injustiças e prevaricações que o Papa não hesitou em definir vergonhosas.

 

Reafirmando que «a reforma é um direito», o Pontífice denunciou os «extremismos aberrantes» aos quais chegaram muitas vezes hipóteses e negociações relativas à conclusão do trabalho e o sucessivo período de descanso. Em seguida, evidenciou a necessidade de «subsídios indispensáveis para a subsistência dos trabalhadores desempregados e das suas famílias» e recomendou «uma atenção privilegiada para com o trabalho feminino, assim como aquela assistência à maternidade que deve sempre tutelar a vida que nasce e quem a serve quotidianamente».

 

«O trabalho – afirmou o Papa na conclusão – não pode ser uma mera engranagem no mecanismo perverso que esmaga recursos para obter lucros cada vez maiores. E «não pode, portanto, ser prolongado ou reduzido em função do lucro de poucos e de forma produtivas que sacrificam os valores, as relações e os princípios».