OAS trocou favores por dinheiro

17/01/2016 12:09

Mensagens interceptadas pela Lava-Jato revelam que o empreiteiro Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, distribuía dinheiro a políticos em troca de favores e discutia com autoridades projetos de interesse da construtora.

Favores ao empreiteiro

 

Mensagens revelam que agentes públicos defenderam interesses da OAS, alguns por dinheiro

 

Vinicius Sassine, Eduardo Bresciani, André Souza Evandro Éboli - O Globo

 

-BRASÍLIA- O ex-presidente da OAS Léo Pinheiro comandou um intenso e variado esquema de distribuição de dinheiro a políticos e autoridades — principalmente por meio de doações de campanha eleitoral — em troca de “ação, intervenção ou apoio” aos negócios da empreiteira nas mais diferentes esferas de poder, como aponta a Polícia Federal em relatório obtido pelo GLOBO. No documento, também há casos em que não há referência a pagamentos.

 

O relatório destaca em 204 páginas as trocas de mensagens de celular ou as citações do empreiteiro a 29 políticos, boa parte deles ainda no exercício de seus mandatos e com direito a foro privilegiado. 

 

Entre os torpedos pinçados pela PF, constam mensagens em que “aparece o pedido ou agradecimento por contribuição em campanhas eleitorais ou pelo atendimento de outros favores de caráter econômico”. A PF detalhou num organograma o modus operandi de Pinheiro, dos demais executivos da OAS e de políticos que se destacam nas trocas de mensagens encontradas em dois celulares apreendidos. Um político pede “valor, doação ou vantagem” ao empreiteiro, que determina os repasses a partir de pelo menos oito “centros de custo” identificados nas mensagens; alguns deles com nomes curiosos, como “Brigite Bardot” e “Projeto alcoólico”. No fim do ciclo, “Léo Pinheiro solicita, pede ou cobra ação, intervenção ou apoio do agente político”, como registra a PF.

 

A troca de mensagens revela como os negócios de Pinheiro dependiam desse poder de barganha. Em 11 de dezembro de 2013, um dos executivos enviou notícia ao empreiteiro sobre a intenção de dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) de votar pelo fim das doações de empresas a campanhas eleitorais, decisão que só foi tomada no ano passado. “Ok. Problemas à vista! Bjs”, responde Pinheiro.

 

Quero agradecer o precioso apoio’

Um dos torpedos que mais ilustram essa troca de favores foi disparado por Newton Carneiro da Cunha, ex-gestor da Petros, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras. A mensagem foi enviada a Pinheiro em 28 de fevereiro de 2014, dia em que Carneiro se tornou diretor de Investimentos da Petros. O empreiteiro teria atuado para ajudá-lo a conquistar o cargo. O diretor, então, agradece: “Caro Léo, Boa Noite, fui empoçado (sic) hoje, pelo Conselho como Diretor de Investimentos! Quero agradecer o precioso apoio recebido de sua parte! Obrigado. E me colocar à disposição para dar vazão aos grandes projetos. Grande Abraço. Newton Carneiro”. Ele não foi localizado para falar sobre o relatório da PF. Já a Petros diz que Carneiro não faz mais parte de seus quadros e que não tem elementos para comentar, uma vez que desconhece o contexto da suposta troca de mensagens.

 

Os pedidos de recursos, os agradecimentos por doações de campanha e as informações sobre atuação em prol da empreiteira envolvem políticos da base do governo e da oposição.

 

A PF afirma no relatório que uma sequência de mensagens indica que a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) teria atendido interesses da empresa em relação à concessão de aeroportos. As mensagens são de 25 de setembro de 2013, época em que ela era ministra da Casa Civil. Gleisi é investigada pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em inquérito aberto no STF no âmbito da Lava-Jato.

 

Sequência de e-mails indica que Gleisi Hoffmann teria atendido interesses da OAS naquilo que (diz) respeito a exploração de aeroportos”, diz a PF. São cinco mensagens sobre o assunto num intervalo de quatro minutos e 16 segundos. A primeira é de um número que a PF diz ser do publicitário Valdemir Flávio Garreta. Ele escreveu: “GLEICE (sic) deu entrevista liberando galeão para nós”. A segunda mensagem é do email acmp@oas.com, do acionista da empresa Antonio Carlos Mata Pires, que disse: “Grande vitória!!!”. Na licitação citada a Invepar, ligada à OAS, conseguiu direito de participar da disputa, mas a vencedora ao final foi a Odebrecht.

 

Outra mensagem é de um telefone atribuído a Gustavo Rocha, presidente da Invepar, empresa que tem a OAS e fundos de pensão como acionistas: “Acabei de te enviar uma entrevista da ministra Gleisy (sic) sobre aeroportos”. As duas últimas mensagens são de César Mata Pires Filho, que foi vice-presidente do grupo OAS. Ele dá parabéns e depois manda o link de uma reportagem publicada no site do GLOBO. Por intermédio da assessoria, a senadora informou que, na época, coordenava o processo das concessões e fez várias reuniões com empresários participantes do processo. Gleisi disse que “nunca tratou de interesse particular de qualquer empresa”.


A doação de 250 vai entrar?’

O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) é citado em mensagem de Léo Pinheiro da seguinte forma: “Vai lhe procurar uma pessoa a pedido do Dep. Arlindo Chinaglia sobre tubulações em aço. E só para atender.” Procurado, o deputado não retornou as ligações.

 

Entre os nomes da oposição, aparece o do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ele enviou uma mensagem a Pinheiro em 29 de julho de 2014 avisando-o sobre a edição de uma nova medida provisória relativa à aviação regional, e que as emendas deveriam ser apresentadas até 8 de agosto. Pinheiro encaminhou a mensagem com o pedido: “Vamos preparar emendas”.

 

Há também pedidos de doação eleitoral. Em 17 de setembro de 2014, Rodrigo Maia pergunta: “A doação de 250 vai entrar?” Na semana seguinte, faz novo pedido: “Se tiver ainda algum limite pra doação não esquece da campanha aqui”. Rodrigo Maia afirmou que o pedido de doação foi atendido e direcionado à campanha de seu pai, o ex-governador César Maia, então candidato ao Senado. O valor está registrado na Justiça Eleitoral. O deputado admitiu que apresentou uma emenda à MP citada no relatório da PF, mas negou que a doação tenha sido feita como troca de favor por sua atuação junto à medida provisória de interesse de Léo Pinheiro:

 

A MP é um tema que o Léo tinha interesse e tínhamos diálogo sobre temas do setor privado, nada que não fosse de uma relação normal, institucional. Na relação com o Léo, há zero de chance de isso ter acontecido (favorecimento). Não é da prática dele agir desse jeito e muito menos da minha.