Papa Francisco \ Encontros e Eventos

15/09/2017 05:12
Papa Francisco \ Encontros e Eventos
Papa a novos bispos: crescer no discernimento encarnado e inclusivo
 
Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco recebeu na Sala Clementina, no Vaticano, os novos bispos ordenados nos últimos doze meses. 
Os prelados participaram do curso de formação para os novos bispos, promovido pela Congregação para os Bispos. Do Brasil, participaram vinte prelados.
 
O Papa manifestou a alegria de conhecer pessoalmente e aprofundar com os novos bispos da Igreja, a graça e a responsabilidade do ministério que receberam. 
 
Discernimento espiritual e pastoral
 
O discurso do Pontífice se deteve no discernimento espiritual e pastoral, necessário para que o povo chegue ao conhecimento e realização da vontade de Deus. O Espírito Santo é o protagonista de todo discernimento autêntico. 
 
“Não muito tempo atrás, a Igreja invocou sobre vocês o “Spiritus Principalis” o “Pneuma hegemonikon”, a força que o Pai doou ao Filho e que Ele transmitiu aos santos apóstolos, ou seja, o Espírito que sustenta e guia. 
 
“Somente quem é guiado por Deus tem título e credibilidade para ser proposto como guia dos outros. Pode ensinar e fazer crescer no discernimento somente quem tem familiaridade com esse mestre interior que, como uma bússola, oferece os critérios para distinguir, para si e para os outros, os tempos de Deus e sua graça; para reconhecer a sua passagem e o caminho de sua salvação; para indicar os meios concretos, agradáveis a Deus, a fim de realizar o bem que Ele predispõe em seu plano misterioso de amor para cada um e para todos. Essa sabedoria é a sabedoria prática da Cruz, que mesmo incluindo a razão e a sua prudência, as ultrapassa, porque conduz à fonte de vida que não morre, ou seja, conhecer o Pai, o único Deus verdadeiro, e aquele que Ele enviou, Jesus Cristo.”
 
Discernimento e oração
 
Segundo o Papa, “um bispo não pode dar como certo a posse de um dom tão elevado e transcendente, como se fosse um direito adquirido, sem cair num ministério infecundo. É preciso implorá-lo continuamente como primeira condição para iluminar toda sabedoria humana, existencial, psicológica, sociológica e moral que pode nos servir na tarefa de discernir os caminhos de Deus para a salvação daqueles que nos foram confiados”. 
 
“O discernimento nasce do coração e na mente do bispo através de sua oração, quando coloca em contato as pessoas e as situações confiadas a ele com a Palavra divina proferida pelo Espírito. É nessa intimidade que o Pastor amadurece a liberdade interior que o torna firme em suas escolhas e em seus comportamentos, pessoais e eclesiais. Somente no silêncio da oração é possível aprender a voz de Deus, encontrar os traços de sua linguagem e ter acesso à sua verdade”. 
 
Discernimento e escuta
 
“O discernimento é um dom do Espírito à Igreja ao qual se responde com a escuta”, disse ainda o Papa. “O Bispo é chamado a viver o próprio discernimento de Pastor como membro do Povo de Deus, numa dinâmica sempre eclesial, a serviço da koinonìa (comunhão). O bispo não é um pai patrão autossuficiente e nem um pastor solitário amedrontado e isolado.”
 
“O discernimento do Bispo é sempre uma ação comunitária que não prescinde da riqueza do parecer de seus presbíteros e diáconos, do parecer do Povo de Deus e de todos aqueles que podem oferecer-lhe uma contribuição útil.”
 
“No diálogo sereno, ele não tem medo de partilhar, e às vezes modificar, o próprio discernimento com os outros: com os confrades no episcopado, com os próprios sacerdotes, e com os fiéis”, disse o Papa.
 
Francisco convidou os bispos “a cultivarem o comportamento de escuta, crescendo na liberdade de renunciar ao próprio ponto de vista para assumir o ponto de vista de Deus”. 
 
Discernimento, humildade e obediência
 
“A missão que os espera não é a de trazer ideias e projetos próprios, nem soluções abstratamente criadas por quem considera a Igreja um quintal de sua casa, mas humildemente, sem protagonismos ou narcisismos, oferecer o seu testemunho concreto de união com Deus, servindo o Evangelho que deve ser cultivado e ajudado a crescer naquela situação específica.” 
 
“Discernir significa, portanto, humildade e obediência. Humildade em relação aos próprios projetos. Obediência em relação ao Evangelho, ao Magistério, às normas da Igreja universal e à situação concreta das pessoas.”
 
Para Francisco, “o discernimento é um remédio contra a imobilidade do ‘sempre foi feito assim’ ou do ‘levar tempo’. É um processo criativo que não se limita a aplicar esquemas. É um antídoto contra a rigidez, pois as mesmas soluções não são válidas em todos os lugares”.
 
O Papa convidou os bispos a terem uma delicadeza especial com a cultura e a religiosidade do povo, cuidar e dialogar com o povo. 
 
Crescer no discernimento
 
“Devemos nos esforçar para crescer num discernimento encarnado e inclusivo, que dialogue com a consciência dos fiéis que deve ser formada e não substituída, num processo de acompanhamento paciente e corajoso, para que possa amadurecer a capacidade de cada um, fiéis, famílias, presbíteros, comunidades e sociedade, chamados a progredir na liberdade de escolher e realizar o bem que Deus quer. A atividade de discernir não é reservada aos sábios, aos perspicazes e aos perfeitos. Ao contrário, Deus muitas vezes resiste aos soberbos e se mostra aos humildes."
“O Pastor sabe que Deus é o caminho e confia em sua companhia. Por isso, o discernimento autêntico é um processo sempre aberto e necessário que pode ser completado e enriquecido.” 
 
“Uma condição essencial para progredir no discernimento é educar-se à paciência de Deus e aos seus tempos que não são os nossos. Cabe a nós acolher todos os dias de Deus a esperança que nos preserva de toda abstração, pois nos permite descobrir a graça escondida no presente sem perder de vista a longanimidade de seu desígnio de amor que vai além de nós”, concluiu o Papa.