PMDB do Rio tenta evitar destino do PT

21/11/2016 14:46
PMDB do Rio tenta evitar destino do PT
Por Cristian Klein – Valor Econômico
 
RIO - Hegemônico no Rio desde 2003 - ano em que o PT chegava ao poder federal - o PMDB fluminense enfrenta sua maior crise, sob a ameaça de repetir no plano regional o que aconteceu com os petistas nacionalmente.
 
Com os mesmos fatores como pano de fundo - crise fiscal sem precedentes e Operação Lava-Jato - o PMDB do Rio tenta evitar destino idêntico ao do PT, o que se tornou muito difícil depois da perda da disputa pela capital, que detém 40% do eleitorado do Estado; da prisão de seu maior cacique político, o ex-governador Sérgio Cabral, acusado de chefiar uma organização criminosa; e do desmantelamento do pacote de austeridade do governador Luiz Fernando Pezão, cuja aprovação ganhou contornos dramáticos na Assembleia Legislativa, com reveses na Justiça e protestos diários de servidores. Isso sem contar Eduardo Cunha, símbolo do poderio do PMDB do Rio, apeado da presidência da Câmara, cassado e depois preso pela Lava-Jato.
 
Com terremoto de tamanhas proporções, a única esperança do PMDB para se manter no Palácio Guanabara, na eleição de 2018, é Eduardo Paes, o prefeito da capital, ele próprio chamuscado por ter apostado num candidato à sua sucessão que sequer chegou ao segundo turno. Diante da necessidade de se reinventar e da dificuldade de o PMDB tirar o Estado da ruína fiscal, a grande expectativa é se Paes vai trocar de legenda para viabilizar sua candidatura. É um movimento camaleônico usual na política brasileira, utilizado em massa neste ano até por integrantes históricos do PT. E Paes já foi do DEM (então PFL), PV, PTB e PSDB, até se filiar ao PMDB em 2007.
 
Ex-prefeito por três mandatos, o vereador Cesar Maia (DEM) diz achar difícil Paes ser competitivo se continuar no PMDB e afirma que a possibilidade de troca de partido aumentou depois da prisão de Cabral. Em sua opinião, a queda de Cabral "dificulta muito a expectativa do PMDB em relação a 2018".
 
Caso o prefeito debande, a volta de Paes para o ninho tucano é considerada a hipótese mais provável - o que daria um palanque estadual à candidatura do PSDB à Presidência. No crescente clima antipolítico, porém, os tucanos cogitam novamente lançar no Rio o técnico de vôlei Bernardinho, que recusou convite em outras ocasiões. Na sexta-feira, o treinador apareceu na lista dos 96 integrantes do novo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República, o Conselhão.
 
Para o ex-governador Anthony Garotinho (PR), preso desde o dia 16, Eduardo Paes "vai sair do PMDB". Em entrevista concedida antes de sua prisão - é acusado de compra de votos por meio do programa Cheque Cidadão - Garotinho afirmou ao Valor que o prefeito "acha que o PMDB está contaminado e ele não está, não quer se contaminar no mar de lama". "Só que pelas informações que tenho, o Eduardo Paes não sobrevive também à Lava-Jato", disse.
 
Garotinho apoiou Crivella na eleição e se disse cético sobre a possibilidade de aproximação do PMDB com o bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus. "O apoio do PMDB depende da posição em que eles estiverem, se soltos ou presos. Tenho informação de que uma boa parte do PMDB estará fazendo companhia a Eduardo Cunha", afirmou, numa declaração que soa premonitória e irônica depois da prisão dele próprio e do ex-governador do PMDB.
 
Como inimigo-mor de Cabral, Garotinho anteviu antes da sua prisão a união de PSDB, do DEM de Cesar Maia e do filho Rodrigo, presidente da Câmara dos Deputados, e do PSD, presidido nacionalmente pelo ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, como forças a sustentar o palanque de um "candidato liberal", que poderia ser Paes.
 
Para o pemedebista Paulo Melo, deputado estadual e ex-presidente da Assembleia Legislativa, o PMDB precisa se recompor, mas ainda é a legenda hegemônica no Estado. "Só em filme de kung fu, meia dúzia ganham de cem", afirma. O parlamentar diz que o PMDB do Rio não é só Cabral, Paes e Jorge Picciani - presidente da Assembleia Legislativa e presidente estadual da sigla. Em sua opinião, a força do partido, para além dos maiores líderes, está na base municipal, na Região Metropolitana, no interior, onde o PMDB manteve, com pouca alteração, seu exército de lutadores.
 
O mesmo cálculo faz Picciani. O cacique reconhece a grande derrota da capital - de onde Crivella poderá tentar criar um novo grupo político para tomar o governo estadual de um combalido PMDB em 2018. Mas, em suas contas, em muitos municípios onde o partido não ganhou prefeituras, o PMDB perdeu para candidatos de legendas aliadas no plano estadual, como o PP, do vice-governador Francisco Dornelles. Quando se somam esses votos, ressalta, o predomínio das alianças locais pemedebistas pode ser projetado como cacife eleitoral daqui a dois anos.
 
Para Melo, "o PMDB tem um projeto político, o governo estadual em 2018, que é igual a clara de ovo". "É um engano fatal alguém achar que vai isolar o partido", diz. O deputado, que já foi presidente estadual do PSDB entre 1991 e 1992, duvida da saída de Paes. Defende a ideia de que fora do PMDB o prefeito "não terá um exército com compromisso com ele". Eventual migração, diz, não seria acompanhada por uma revoada de pemedebistas liderados por Paes. "Estou há 20 anos neste partido. Perdemos eleição para o Garotinho e depois ele é que veio para o PMDB. O partido que deu tranquilidade ao [governador pelo PSDB] Marcelo Alencar, na Assembleia, foi o PMDB", argumenta.
 
O parlamentar diz confiar numa reabilitação da imagem de Paes e aposta no fracasso do próximo prefeito. "Crivella fazer uma administração superior à dele é impossível pelo momento atual. Com isso, vai ficar a imagem da prefeitura que dava certo, que transformou o Rio de Janeiro, o legado dele", afirma.
 
Para Melo, o eleitorado não necessariamente punirá o candidato do PMDB como o responsável pela derrocada financeira do Estado: "É a pessoa que empresta prestígio ao partido e não o contrário".
 
Sobre o futuro mais imediato do partido e a possibilidade de impeachment de Pezão, Cesar Maia enxerga um panorama tão dramático que o ônus de assumir o governo nesta situação de penúria é altíssimo para qualquer político. "Não creio [em impeachment], até porque com este quadro não há nomes alternativos", diz.