PMDB é cortejado e pode definir o futuro de Dilma

04/12/2015 11:28

Alessandra Mendes e Bruno Porto - Hoje em Dia

Enquanto o governo tenta reagrupar sua fragmentada base de apoio e atrair os partidos chamados “independentes”, a oposição se esforça para seduzir parlamentares “infiéis” – aqueles que estão em partidos aliados ao governo, mas nem sempre estão alinhados com as decisões do Planalto. Neste jogo de contagem de votos, uma terceira força é cortejada por esses dois polos da disputa – o PMDB, maior bancada do Legislativo com 66 deputados federais, e com a possibilidade real de assumir a cadeira hoje ocupada por Dilma Rousseff. O eventual afastamento da presidente culminará na posse do vice, o peemedebista Michel Temer.

O PMDB ainda tem a força de responder pela presidência tanto da Câmara, com Eduardo Cunha, como do Senado, com Renan Calheiros, mas peca pela falta de unidade. “É impossível contar os votos do PMDB, uma eterna incógnita. Como é muito dividido internamente, não é estimável o número de parlamentares que seguirão o caminho do impeachment ou o caminho oposto a esse”, disse o cientista político da UFJF Paulo Roberto Figueira. O próprio discurso dos peemedebistas é indecifrável. Alegam não existir ainda orientação partidária formal.

Mudanças

O deputado federal Newton Cardoso Júnior (PMDB-MG) é um dos que não sinalizam o voto. “O pedido (de impeachment) deve ter evidências reais para justificar o afastamento e não pode ser uma votação política. Mas não há automaticidade no voto por ser o PMDB da base. Temos que ouvir os anseios da sociedade, que quer uma mudança no país, não necessariamente no governo”. O experiente peemedebista e deputado federal Mauro Lopes também argumenta ser prematuro se posicionar.

Na mesma linha de aparente neutralidade, o deputado e ex-ministro da Saúde no governo Lula (PT), Saraiva Felipe, alega precisar de mais tempo para “estudar o caso”. “Impeachment é muito grave. Temos que analisar as motivações do pedido. Vou esperar a posição da bancada”.

Sedução’

Na oposição, está em curso a operação para atrair os peemedebistas. “O PMDB é um partido que tem um peso extremamente importante não só pelos votos, mas também pela responsabilidade de presidir um acordo nacional, caso ocorra impeachment. Mesmo que o PMDB, através de seus líderes, esteja dividido, nós vamos trabalhar para trazer o maior número de deputados deles para o nosso lado”, afirmou o deputado federal e presidente do PSDB em Minas, Domingos Sávio.

Já no governo, o discurso, ao menos o oficial, é o de confiança na postura do PMDB. “Em partidos muito grandes, como o PMDB, é natural divergência interna. Mas, como partido, não adotará posição contrária ao governo que faz parte”, disse o deputado Gabriel Guimarães (PT).

Questionado se o PMDB é fundamental nesse processo, o cientista político e professor da UFMG Carlos Ranulfo respondeu negativamente. “O PMDB tem 60 e poucos votos e está rachado. O plenário está dividido e nenhum partido tem unidade. A chave é o grau de funcionalidade da coalizão. Tem que achar os pouco mais de 170 votos”.

A imprevisibilidade do PMDB está também em sua situação confortável, avaliou o cientista político da PUC-Minas Malco Camargos. “Se o governo continuar, continua no bloco governista. Se sair, Michel Temer assume e continua no governo. Isso faz com que os interesses da situação e da oposição sejam dúbios”.

Sem base sólida, governo petista depende do seu maior ‘aliado’

Se tivesse uma base sólida e coesa, a presidente Dilma Rousseff não precisaria contar com o PMDB para se livrar do processo de impeachment na Câmara. Excluindo os representantes peemedebistas, o número de parlamentares dos partidos que integram a o governo (PP, PTB, PRB, PT, PSD, PR, PCdoB e PDT) chega a 242 deputados. Quantidade mais do que suficiente para garantir a derrubada do impeachment. Para que o processo seja barrado na Câmara, são precisos os votos de 172 deputados (ou 1/3 da Casa).

Acontece que a base não tem sido fiel aos posicionamentos defendidos pelo governo federal. Prova disso é o fato de as demandas do Planalto encontrarem tanta dificuldade para serem aprovadas.

Por isso, a corrida pelos votos dos “independentes” se torna tão crucial neste momento. “Esses partidos que ainda não se posicionaram e os da própria base que têm posição dúbia são primordiais. Não dá para ficar com um pé na canoa e outro fora”, afirma o deputado pelo PSB mineiro Júlio Delgado.

O próprio PSB é um exemplo dentre as legendas que não apresentam uma unidade. Apesar de alguns quadros votarem alinhados com a oposição por diversas vezes na Câmara, outros, integrantes do partido no Nordeste, assinaram nessa quinta (3) carta de repúdio ao pedido de cassação de Dilma. “A tendência é que sigamos orientação do partido, que ainda não está posta”, diz o deputado.

Partido da presidente e do vice terão mais representantes

PT e PMDB são os partidos que terão maior número de representantes na comissão que decidirá sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara. Cada uma das legendas tem oito de um total de 65 membros. Partidos que integram o governo Dilma (PMDB, PP, PTB, PRB, PT, PSD, PR, PCdoB e PDT) têm 36 membros. As bancadas de muitas destas legendas, no entanto, não são coesas, havendo dissidência.

Os principais partidos de oposição (DEM, SD, PSC, PSDB, PPS e PSB) têm 17 representantes, sendo a bancada tucana a maior delas, com seis integrantes.

Na análise de especialistas, o papel da formação e do posicionamento da comissão é fundamental. “Se a comissão barrar o processo, dificilmente o plenário aprovará. São batalhas diferentes, mas, se vencer a primeira batalha, a fatura está liquidada em favor do governo”, avalia o cientista político e professor da UFMG Carlos Ranulfo.

Mesma linha de pensamento é apresentada pelo professor da PUC-Minas e cientista político Malco Camargos. “O parecer da comissão é relevante para a definição em plenário. Não podemos esquecer que o processo é político”.

Grupos

Os partidos já formaram grupos que, em tese, indicam a linearidade dos votos entre eles. O bloco comandado pelo PT, integrado ainda pelo PSD, PR, PROS e PCdoB, terá 19 vagas. O PMDB compôs com PP, PTB, DEM, PRB, SDD, PSC, PHS, PTN, PMN, PRP, PSDC, PEM e PRTB, que juntos, somam 25 integrantes. O bloco PSDB, PSB, PPS e PV totaliza 12 vagas.

A comissão que vai analisar o impeachment terá 65 deputados em razão da proporcionalidade. De acordo com a Secretaria-Geral da Mesa, se fossem 66 integrantes, como previsto na lei, alguns partidos ficariam sem representantes. (Com agências)

Com base mínima o governo pode barrar o impeachment, mas é um jogo a ser jogado ” (Paulo Figueira - Cientista político da UFMG)

Com Maior bancada, PMDB é cortejado e pode definir o futuro de Dilma