IPB - Presbiterianismo - Igreja Presbiteriana do Brasil

17/11/2018 15:08

Após uma tentativa sem sucesso, os presbiterianos voltam ao Brasil e fincam raízes

Por Cristiane Guimarães

“Já me desfiz da indumentária marítima: dei-a ao camareiro que me prestou bons serviços na viagem. Estou pronto para o desembarque”, escreveu o reverendo Ashbel Green Simonton quando desembargava no Brasil com a missão de difundir a Igreja Presbiteriana à qual pertencia. O primeiro missionário presbiteriano pisou em solo brasileiro em 12 de agosto de 1859, às 9h30, no porto do Rio de Janeiro/RJ. “Belo lugar, o mais original e notável que jamais vi”. Nascia naquele dia a história de 150 anos da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB).

Norte-americano, Simonton tinha 26 anos quando aportou no Rio. Caçula de uma família de nove irmãos, aos 22 anos questionou se a vida não lhe estava sendo muito “sem propósito”. Pensou em ser professor ou advogado, mas optou pela vida religiosa, ingressando no Seminário de Princeton/EUA. Uma palestra do teólogo Charles Hodge o levou a considerar a possibilidade de se tornar missionário. Após decidir, inscreveu-se para trabalhar no estrangeiro e apontou o Brasil como destino de sua preferência. Embarcou em 18 de junho de 1859 rumo a uma terra que, após uma curta experiência, não possuía mais nenhum traço de protestantismo.

Simonton encontrou um País onde a escolha da religião era livre, mas a única exteriorização permitida era a católica. Os prédios que abrigavam os templos não podiam demonstrar em sua arquitetura a que se destinavam. O reverendo presbiteriano presidiu seu primeiro culto totalmente em português em 22 de janeiro de 1860.

Dois anos depois foi fundada a Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro (1862). Simonton foi responsável ainda pela fundação do jornal Imprensa Evangélica (1864), do Presbitério do Rio de Janeiro (1865) e de um seminário (1867). Seu ministério, no entanto, durou apenas oito anos, pois ele morreu aos 34 anos, em 8 de dezembro de 1867, vítima de febre amarela.

Um de seus grandes colaboradores foi José Manoel da Conceição, um ex-sacerdote católico, que se tornou o primeiro brasileiro a ser ordenado ministro do Evangelho, em 1865. Foi responsável pela pregação em diversas vilas e cidades do interior do Estado de São Paulo, Vale do Paraíba e Sul do Estado de Minas Gerais.

Expansão

O trabalho de Simonton para a expansão do presbiterianismo contou com a ajuda de seu cunhado, Alexander Blackford, e de colegas como Francis Schneider, George Chamberlain e Robert Lenington. Eles colaboram na implantação de igrejas pioneiras no Estado de São Paulo, especificamente nos municípios de Brotas, Lorena e Sorocaba. Nessa mesma ocasião alcançou a cidade de Borda da Mata, no sul de Minas Gerais. O primeiro concílio aconteceu em 1865, com a existência das igrejas do Rio de Janeiro, São Paulo e Brotas, o que culminou com a criação do Presbitério do Rio de Janeiro.

O primeiro culto em São Paulo aconteceu num domingo, 18 de outubro de 1863, na Sala Inglesa da Leitura. Blackford pregou em inglês para 14 pessoas usando o texto bíblico de I Timóteo 2, 5: “há um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem”. Uma semana depois, partiu para visitar o interior do Estado com o objetivo de expandir o trabalho. As igrejas do Rio e São Paulo foram chamadas “igrejas-mães”. Depois surgiram aquelas que foram resultado do trabalho evangelizador dos presbiterianos.

Na semana que se seguiu ao primeiro culto na capital paulista, Blackford visitou, no interior do Estado, os municípios de Campinas, Limeira, São João do Rio Claro, Piracicaba e as colônias alemãs de São Jerônimo, Ibicava e São Lourenço. Brotas foi o primeiro núcleo presbiteriano do interior, fundado em janeiro de 1866. O historiador Boanerges Ribeiro aponta que a cidade foi escolhida por ser, naquela época, a fronteira do sertão, sendo habitada por “homens e mulheres que tinham energia moral e atrevimento para admitir uma mudança de religião”.

Depois de Brotas veio Lorena, também em 1866. Em maio de 1869, surgiu a igreja de Borda da Mata/MG e, quatro meses depois, a de Sorocaba/SP. A cidade possuía, naquela época, 5 mil habitantes e recebeu a visita de Blackford por duas vezes. Na primeira, ele pregou para 35 pessoas e, na segunda, para 50.

Foi também naquele ano que chegaram os primeiros missionários da Igreja Presbiteriana do Sul dos Estados Unidos. Evangelizaram a região Mogiana de São Paulo, o Oeste de Minas Gerais, o Triângulo Mineiro e o Sul de Goiás, além de atuarem no Norte e Nordeste do País.

Em 1888, foi realizado na capital carioca o Sínodo Presbiteriano, composto dos presbitérios do Rio de Janeiro, Pernambuco e Campinas, com a participação de 20 missionários, 12 ministros nacionais e aproximadamente 3 mil membros comungantes. A IPB tornou-se uma denominação autônoma, fincando definitivamente suas raízes em solo brasileiro, desvinculando-se das “igrejas mães” norte-americanas. Durante o Sínodo foi implantado ainda o Presbitério de Minas Gerais.

Hoje, a IPB possui cerca de 1.000.000 Hum Milhão de membros e 5 mil reverendos que atuam em 5 mil igrejas no País

Estrutura da IPB

A IPB é uma federação de igreja locais, regida por uma Constituição, promulgada em 20 de julho de 1950. A direção é regida por meio de quatro Concílios, que são assembleias constituídas por ministros e presbíteros: Conselho, Presbitério, Sínodo e Supremo Concílio.

O Conselho exerce jurisdição sobre a igreja e é formado por pastores e presbíteros e se reúne pelo menos a cada três meses. O Presbitério é formado por ministros e presbíteros, representantes de igrejas de uma determinada região, com funções como admitir, ordenar, designar e disciplinar ministros, além de julgar relatórios das igrejas, fiscalizar a remessa do dízimo e eleger representantes para os concílios superiores.

O Sínodo é uma assembleia que representa os presbíteros de determinada região cabendo-lhe a competência, entre outras coisas, de organizar e dissolver Presbitérios, superintender obras de evangelização, designar ministros, defender direitos e bens da igreja e propor ao Supremo Concílio medidas que julgar importantes. Enquanto ao Supremo, formado por deputados eleitos pelos Presbitérios, cabe organizar e dissolver Sínodos, resolver em última instância questões dos concílios inferiores, receber os dízimos, definir a relação entre a igreja e o Estado, executar e fazer cumprir a Constituição e defender os interesses da igreja. (CG)

 

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