Primeiro dia da VI Semana Teológica - ICESPI

06/11/2017 23:45
VI Semana Teológica - Auditório do Edifício Paulo VI - Centro de Teresina/PI
Alfonso García Rubio é Padre diocesano espanhol, radicado no Brasil desde 1959, é doutor em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, Itália. Escritor e professor de Antropologia Teológica e de Cristologia nos cursos de graduação e pós-graduação da Faculdade de Teologia da PUC/RJ. Publicou por Paulinas Editora: Encontro com Jesus Cristo vivo (11. ed., 2007) e Evangelização e maturidade afetiva (3.ed.,2007). 
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INTRODUÇÃO GERAL - 1º DIA - Os desafios da mudança na visão do ser humano na modernidade e pós-modernidade. O mal-estar na Igreja. A linguagem que não comunica. Atrelados a uma visão do mundo e do ser humano ultrapassada pela ciência e pela cultura moderna. Quase identificação da fé cristã com a visão do mundo grego e medieval.
 
A - Sobre as mudanças na visão do mundo e do ser humano na Modernidade/pós-modernidade, ver:
 
1 - Na modernidade (cf. A. Garcia Rubio, Unidade na pluralidade. O ser humano à luz da fé e da reflexão cristã, São Paulo: Paulus, ed. 6, p-24-37).
 
2 - Na pós-modernidade: 
 
2.1 - Na sensibilidade pós-moderna (cf. A. Garcia Rubio, Unidade na Pluralidade, p. 45-46)
 
2.2 - Na reação holística (cf. ibid., p. 46-48).
 
2.3 - Na nova economia e na nova sociedade informacional e global. (Cf. Ibid., p.48-50).
 
B - Humanização do ser humano: a necessária hermenêutica. Distinção entre fé cristã e expressão cultural e religiosa dessa fé (Cf. A. Garcia Rubio, A teologia da criação desafiada pela visão evolucionista da vida e do cosmo, em : GARCIA RUBIO, A. PORTELA AMADO, J., (orgs.). Fé cristã e pensamento evolucionista. Aproximações teológicas-pastorais a um tema desafiador, São Paulo: Paulinas, 2012, p. 15-54, Aqui: p. 25-28.
Ver do Papa Francisco, EG N. 41: verdades de sempre apresentadas numa linguagem que permita reconhecer sua permanente novidade. A linguagem ortodoxa pode ser entendida pelos fiéis como não correspondente ao Evangelho. Com santa intenção se pode falsificar a imagem de Deus e do ser humano. Se pode ser fiel à formulação, mas não à substância. N. 116: o cristianismo não dispõe de um único modelo cultural. N. 117: a diversidade cultural não ameaça a vida da Igreja. Ela não se identifica com nenhuma cultura, é transcultural. Não sacralizar a própria cultura.
 
- O método hermenêutico utilizado pela teologia atual.
 
- A fé se expressa sempre numa cultura determinada. Quando muda o contexto cultural, se torna necessária uma nova interpretação da fé a serviço da comunicação significativa dessa fé. Deve ser bem ressaltado: a fé continuará a mesma. Muda, e muito, a expressão cultural dessa fé.
- A distinção hermenêutica entre dizer e afirmar ou entre fé cristã e expressão cultural da fé.
 
- Importância comunitária e social da expressão cultural e religiosa da fé. Estrutural a identidade e coesão.
 
- Prudência pastoral: lento e progressivo trabalho de conscientização evangélica.
 
TEMA 1 - Humanização do ser humano: superação da antropologia dualista e desenvolvimento de uma visão integrada do ser humano. (cf. Id., Unidade na pluralidade. Cap. 2 e 8.; Elementos de Antropologia Teológica. Salvação cristã: salvos de quê e para quê? Petrópolis: Vozes, 2014, ed.6, p. 15-36; Id., Evangelização e maturidade afetiva, São Paulo: Paulinas, 2006, 3 ed., p. 39-46).
 
- A pessoa humana é muito complexa. Nela, encontramos grande riqueza de dimensões: interiorização-abertura, espiritualidade-corporeidade, razão-afetos, etc. Compreende-se a facilidade com que se insinua a tentação do reducionismo dualista. De fato, a visão dualista está presente sempre que, para resaltar uma dimensão ou aspecto do ser humano, a pessoa é levada a desvalorizar uma outra dimensão ou aspecto com a qual se encontra em tensão. Nessa visão, a relação entre as dimensões do humano é de exclusão. E acresce que abre a porta para diversos tipos de neurose.
 
Exemplos: o desprezo do corpo, visto como inimigo da vida espiritual; a repressão do mundo das emoções e sentimentos (vida afetiva); a desvalorização da sexualidade, reduzida que foi ao aspecto genital biológico etc...
 
Ora, é óbvio que esta visão dualista afeta igualmente a maneira que nós temos de relacionar as diversas dimensões ou aspectos que constituem a riqueza da salvação cristã. Exemplos:
 
-Em nome da oração, descuida-se do compromisso social e político. Ou ao contrário, em nome do social-político, fica descuidada a oração e a vida sacramental.
 
-Em nome do sagrado, é desvalorizado o profano. Ou, ao contrário, em nome do profano, é descuidado o mundo do sagrado.
- Em nome do ministério ordenado, é desvalorizado o sacerdócio comum. Ou, ao contrário, em nome do sacerdócio comum, é descuidado o sacerdócio ministerial ordenado, etc...
 
A vocação humano-cristã fica, assim, muito empobrecida. É fácil concluir que se trata de uma visão do ser humano inadequada para entender e viver a riqueza que significa o projeto de Deus sobre a nossa humanização integral.
 
- A necessária articulação das dimensões. Relações inclusivas entre as dimensões em tensão.
 
Existe, felizmente, outro modo de considerar a realidade da pessoa humana. Trata-se da visão integrada ou unitária, que relaciona de maneira inclusiva as dimensões básicas da vida humano-cristã, de tal modo que uma dimensão está sempre aberta à complementação crítica da outra dimensão com a qual se encontra em tensão.
 
Esta visão integrada do ser humano é própria do mundo cultural semita, que, como já sabaemos, é o mundo no qual a Bíblia foi sendo elaborada e escrita. De fato, na Sagrada Escritura, o ser humano é visto como uma unidade. Os termos bíblicos utilizados, seja em hebraíco (nefesh, basar, rúar, Lebeb etc), seja em grego (psyché, pnêuma, soma, kardia, etc), designam aspectos do ser humano mas sempre referidos ao homem ou à mulher vistos sempre como uma unidade (Ver Unidade na Pluralidade, cap. 8). É assim, que Jesus Cristo vê o ser humano. Ver o exemplo, Mt 7, 24-27 e Jo 13,17.
 
O ser humano acolhe o dom do amor e da vida oferecidos por Deus, com todo o seu ser. Afeta o ser humano integralmente considerado.
Experiência humano-cristã amadurecida: relação inclusiva entre as dimensões humano-cristãs.