Reinaldo Azevedo: Lula e a hora dos histéricos
19/01/2018 10:05
Reinaldo Azevedo: Lula e a hora dos histéricos
- Folha de S. Paulo
O antipetismo e o antilulismo se tornaram uma profissão de vigaristas. E das mais rentáveis
A histeria que toma conta da esquerda autoritária e da direita de chanchada com o julgamento, no dia 24, pelo TRF-4, do recurso de Lula tem só uma explicação: ele lidera as pesquisas de intenção de voto para a Presidência. Se o PT e seu líder maior vivessem vicissitudes ao menos semelhantes às de 2016, quem se importaria?
Os dois lados estão com medo.
Comecemos pelos "companheiros". Embora Lula tenha condições, caso não possa ser candidato, de pôr no segundo turno um ungido seu, é certo que a escolha recairia sobre alguém com um potencial de votos muito menor. Sem o líder máximo, a perda de musculatura do PT no Congresso tende a ser muito maior.
Se o ex-presidente, pessoalmente, demonstra uma espantosa resiliência, o mesmo não se verifica com o partido. Já conversei com pessoas que veem a legenda como "um bando de ladrões". Mas seu candidato à Presidência é... Lula! Até porque, emendam, "ninguém presta mesmo; todo mundo é igual!" E essa é a hora em que o petismo deveria ser grato, apesar de tudo, a Rodrigo Janot, Sergio Moro e Deltan Dallagnol.
A paúra da direita circense decorre do fato de que ela alimentou seus sectários com uma penca de estelionatos políticos, morais e existenciais. O antipetismo e o antilulismo se tornaram uma profissão de vigaristas. E das mais rentáveis. Se Lula vence a eleição, haverá uma horda em busca de emprego -em alguns casos, do primeiro emprego. A eventual vitória de um petista já lhes seria um desastre considerável.
"Ora, Reinaldo, seria uma tragédia para o país." Também acho! Mas tanto pior para quem alimentou as forças que, sob o pretexto de combater a corrupção, resolveram atacar fundamentos da própria democracia. Brandindo a bandeira da "nova política", chocaram o ovo do velho estatismo bocó, atrasado, reacionário, que é a seiva que alimenta o petismo.
Essa direita não se deu conta de que o discurso contra a política, nas circunstâncias do Brasil, não conduziria ao novo, mas nos devolveria ao velho. Os conservadores brasileiros nunca entenderam Lula e o PT -tanto é que insistem no suposto caráter bolivariano do partido, o que é uma asnice. O autoritarismo do partido é de outra cepa e convive muito bem com banqueiros, empreiteiros e empresários bem-aquinhoados por juros, obras, subsídios e renúncias fiscais.
Os tontos não perceberam que a liquefação da política e dos fundamentos do Estado de Direito, promovida pela Lava Jato, não abriu caminho para o redentor "outsider do futuro". O que se fez foi ressuscitar o "outsider do passado", em cujo governo, com efeito, milhões de eleitores pobres viveram dias melhores. "Mas os petistas quebraram o país." É verdade! Vai lá, então, debater macroeconomia com Sua Excelência o Pobre! Cuidado! Ele tem uma arma: a geladeira microeconômica!
E que se note: se a sentença de Moro for confirmada pelo TRF-4, o tribunal estará dizendo que Lula é o dono não declarado do tal tríplex de Guarujá, fruto de propina, mas, segundo o juiz, não oriunda da Petrobras, embora seja isso a constar da denúncia. Ocorre que a Justiça do Distrito Federal penhorou o imóvel como um bem da OAS. Vale dizer: um mesmo sistema judicial reconhece que o apartamento é e não é de Lula. Hospício ou circo?
Para encerrar: como a capacidade dos ditos "conservadores" nativos de fazer e dizer besteira não reconhece limites, eles são os primeiros a declarar a "falência" do nosso sistema político, com o que concordam, é claro!, Janio de Freitas (neste espaço), Roberto Barroso (o mais esquerdista dos ministros do Supremo) e, ora vejam!, o próprio Lula. Mais uma vez, as agendas da direita e da esquerda se unem contra o Estado de Direito. E que resposta dar nesse caso? Ora, o chefão petista já começou a falar em uma nova Constituinte.
No fundo do poço, pois, o alçapão.
Lula não foi... "preso amanhã". Deixado por conta do eleitor, seria eleito amanhã. A direita xucra está de parabéns. Que obra!