Revista Oeste: A busca incessante por uma denúncia

09/07/2021 11:07

PROCURA-SE UM FIAT ELBA

Por Silvio Navarro - Revista Oeste

A busca incessante por uma denúncia que derrube o presidente Jair Bolsonaro

Uma reportagem publicada no jornal Folha de S.Paulo em janeiro de 2018, no início de um ano eleitoral sem sombra de pandemia, ajuda a explicar por que o hoje presidente Jair Bolsonaro enfrenta a maior oposição já declarada pela imprensa brasileira — e por seus rivais políticos que surfam em manchetes — desde a redemocratização do país. O texto apresentava números de uma pesquisa Datafolha num cenário em que o ex-presidente Lula (embora condenado em segunda instância e, portanto, impossibilitado de ir às urnas) derrotaria Bolsonaro em qualquer circunstância. Pior: o candidato que seria eleito nove meses depois com 58 milhões de votos havia “parado de crescer”.

Naquela época, os meios de comunicação tradicionais já caçavam incessantemente informações capazes de desidratar a arrancada eleitoral em curso. Se é fato que revirar o passado de um político prestes a governar uma nação é legítimo e dever da imprensa, também é preciso registrar que começava ali uma artilharia cuja mira só tinha um lado — afinal, em janeiro daquele ano, a Lava Jato ainda levaria gente graúda para a cadeia e Lula nem sequer havia sido preso.

No dia seguinte ao do primeiro turno da eleição, o tom dos editoriais subiu. Para a Folha de S.Paulo, o candidato que recebera mais votos era um político com “pregação tosca, de tons frequentemente autoritários, e um programa ultraliberal encampado na última hora”. Já O Estado de S. Paulo escreveu que “mesmo o mais bem informado eleitor teria dificuldade em saber quais eram suas propostas para tirar o país da rota do iminente desastre fiscal porque, nas poucas vezes em que foi questionado sobre o assunto durante a campanha, em entrevistas ou debates, o ex-capitão gaguejou, apelou para frases feitas, com pouco sentido, e, por fim, acabou admitindo que é absolutamente ignorante em economia”. Na mesma linha seguiu o Grupo Globo.

Tudo isso ganhou escala muito maior depois da posse. Até a “rachadinha” dos filhos de Bolsonaro — que não deve ser minimizada — recebeu uma calibragem diferente quando comparada com a mesma prática feita pelo PT. Jornalistas, artistas e famosos que nunca tiveram coragem de escrever com todas as letras que Lula é um criminoso chamam sem pudor Bolsonaro de “genocida” — um colunista desejou publicamente a sua morte em jornal, outro desconfiou da facada.

Parte da resistência a Bolsonaro se explica pela militância ideológica de esquerda presente nas redações e que nunca aceitou sua vitória nas urnas — daí a hashtag #EleNão e a chegada da abjeta “cultura do cancelamento” ao meio político. Para saber mais sobre como as universidades doutrinam a juventude, vale a leitura do livro Lavagem Cerebral, de Ben Shapiro, comentarista político conservador nos Estados Unidos. A realidade nas salas de aula lá não é diferente do que acontece aqui.

A outra metade da responsabilidade pelo desgaste com a imprensa se deve ao estilo reativo do presidente. Não foram poucas as vezes em que ele poderia, simplesmente, ter evitado o confronto com um microfone que considera provocador — porque Bolsonaro gosta de uma encrenca.