Revista Oeste: Geraldo, o que você tá fazendo aí?
LULA & ALCKMIN NA INTIMIDADE
Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin | Foto: Reprodução
“Foi bom você falar em roupa suja: que história foi aquela de dizer que eu seria candidato pra voltar à cena do crime?”
Por Guilherme Fiuza – Revista Oeste
— Geraldo, o que você tá fazendo aí?
—Ué, Lula. Você não me chamou pra ser seu vice?
— Não tô falando disso. O que você tá fazendo aí parado?
— Nada.
— Claro. Quem tá parado não tá fazendo nada. Você parecia mais inteligente quando era meu adversário.
— Não estou fazendo nada porque já concluí minhas tarefas.
— Quais?
— Já dei entrevista pra uns 15 veículos dizendo que você é honesto.
— Não adianta tentar me agradar. Quem dá entrevista na dupla sou eu. Já viu quanta louça tem na pia?
— Foi pra isso que você me chamou pra ser seu vice?
— Claro. Disseram que você dá duro. Eu gosto de gente assim do meu lado, pra eu poder ficar sem fazer nada. Vai lavar a louça.
— Não é assim não, Lula. O presidente é mais importante que o vice, mas não manda nele.
— Manda sim.
— Não manda.
— Manda.
— Não manda.
— Tá bom, então não tô mandando. Tô pedindo. Pode fazer a gentileza de lavar a louça? Não vamos desgastar a nossa relação por tão pouco.
— O que adianta encarar a louça com toda essa roupa suja que a gente tem pra lavar?
— Foi bom você falar em roupa suja: que história foi aquela de dizer que eu seria candidato pra voltar à cena do crime?
— Desculpe, Lula. Eu tava com a cabeça péssima aquele dia.
— Por quê?
— Tinha acabado de sair de uma reunião com o Doria. Você não sabe o que são três horas de Doria.
— Imagino. Falando de quê?
— Negócios.
– Você é justo, Lula. Como disseram aqueles criminalistas milionários, você é o símbolo da justiça
— Negócio da China?
— Você é sagaz, Lula.
— Obrigado.
— Você é brilhante, Lula.
— Obrigado.
— Você é diferenciado, Lula.
— Obrigado.
— Você é justo, Lula. Como disseram aqueles criminalistas milionários, você é o símbolo da justiça.
— Sou mesmo.
— E da humildade.
— Tá bom, Geraldo. Já te desculpei, pode parar. Só me diz uma coisa: nesse negócio da China aí não rola nada pra nós?
— Aí você está me ofendendo.
— Calma, não insinuei nada ilegal.
— Não falei de legalidade. Quem se abraça com você não tem mais esse tipo de preocupação. Você me ofende falando de parceria com o Doria. Isso aí nem morto.
— Respeito seus princípios. Só queria te lembrar que o Doria tá com um bom tempo de televisão.
— Horário eleitoral?
— Horário telejornal.
— Ah, isso é bom. Pensando bem o Doria não é tão detestável assim.
— Parece que tá bem com os compradores chineses. Que também estão com ótimo tempo de televisão.
— No fundo o Doria é um cara legal.
— Pois é. Tudo é relativo.
— Agora você falou bonito, Lula. Você conhece a Teoria da Relatividade?
— Não sou muito de teoria. Prefiro a prática.
— Sei disso. Mas Einstein tem o seu valor.
— Não acho.
— Jura? Por quê?
— Companheiro, eu já li muito. Li uma porrada de planilha da Odebrecht. Nunca vi esse nome lá.
— Do Einstein?
— É. Posso te garantir que nunca entrou. E quem não entra em planilha da Odebrecht, pra mim, não tem valor. Ou então é barato demais, o que dá no mesmo.
— Não tinha pensado nisso.
— Tem que pensar mais, Geraldo. Pensar é importante.
— Mas você não disse que me convidou pra vice pelo trabalho pesado, tipo lavar a louça?
— E tem alguma hora melhor pra pensar do que lavando louça? É nessa hora que vêm as melhores ideias.
— Como você sabe, se você não lava louça?
— Deixa de ser burro, Geraldo. Eu só posso saber do que eu faço? O Mensalão, por exemplo: foi o Marcos Valério lavando a louça do PT que apareceu a ideia.
— Genial.
— O Mensalão?
— Genial botar um publicitário pra lavar louça.
— Quem cola em mim tem que ralar. Vai se acostumando. Quem sabe você não me dá uma ideia tão boa quanto a do Valério.
— Não sou tão criativo.
— Ué, você gostou do Mensalão, afinal?
— Genial.
— Mas quando você disputou a Presidência comigo em 2006 você dizia que o Mensalão era roubo.
— Fake news.
— Nem existia essa expressão na época, companheiro.
— É que eu sou um homem à frente do meu tempo. Eu já espalhava fake news antes de existir fake news. Sempre soube que você é honesto, Lula.
— Tá. Então vai lavar a louça pra pensar na besteira que você fez.