Revista Oeste: Geraldo, o que você tá fazendo aí?

19/02/2022 01:34

LULA & ALCKMIN NA INTIMIDADE

Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin | Foto: Reprodução

Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin | Foto: Reprodução

“Foi bom você falar em roupa suja: que história foi aquela de dizer que eu seria candidato pra voltar à cena do crime?”

Por Guilherme Fiuza – Revista Oeste

Geraldo, o que você tá fazendo aí?

—Ué, Lula. Você não me chamou pra ser seu vice?

— Não tô falando disso. O que você tá fazendo aí parado?

— Nada.

— Claro. Quem tá parado não tá fazendo nada. Você parecia mais inteligente quando era meu adversário.

— Não estou fazendo nada porque já concluí minhas tarefas.

— Quais?

— Já dei entrevista pra uns 15 veículos dizendo que você é honesto.

— Não adianta tentar me agradar. Quem dá entrevista na dupla sou eu. Já viu quanta louça tem na pia?

— Foi pra isso que você me chamou pra ser seu vice?

— Claro. Disseram que você dá duro. Eu gosto de gente assim do meu lado, pra eu poder ficar sem fazer nada. Vai lavar a louça.

— Não é assim não, Lula. O presidente é mais importante que o vice, mas não manda nele.

— Manda sim.

— Não manda.

— Manda.

— Não manda.

— Tá bom, então não tô mandando. Tô pedindo. Pode fazer a gentileza de lavar a louça? Não vamos desgastar a nossa relação por tão pouco.

— O que adianta encarar a louça com toda essa roupa suja que a gente tem pra lavar?

— Foi bom você falar em roupa suja: que história foi aquela de dizer que eu seria candidato pra voltar à cena do crime?

— Desculpe, Lula. Eu tava com a cabeça péssima aquele dia.

— Por quê?

— Tinha acabado de sair de uma reunião com o Doria. Você não sabe o que são três horas de Doria.

— Imagino. Falando de quê?

— Negócios.

– Você é justo, Lula. Como disseram aqueles criminalistas milionários, você é o símbolo da justiça

— Negócio da China?

— Você é sagaz, Lula.

— Obrigado.

— Você é brilhante, Lula.

— Obrigado.

— Você é diferenciado, Lula.

— Obrigado.

— Você é justo, Lula. Como disseram aqueles criminalistas milionários, você é o símbolo da justiça.

— Sou mesmo.

— E da humildade.

— Tá bom, Geraldo. Já te desculpei, pode parar. Só me diz uma coisa: nesse negócio da China aí não rola nada pra nós?

— Aí você está me ofendendo.

— Calma, não insinuei nada ilegal.

— Não falei de legalidade. Quem se abraça com você não tem mais esse tipo de preocupação. Você me ofende falando de parceria com o Doria. Isso aí nem morto.

— Respeito seus princípios. Só queria te lembrar que o Doria tá com um bom tempo de televisão.

— Horário eleitoral?

— Horário telejornal.

— Ah, isso é bom. Pensando bem o Doria não é tão detestável assim.

— Parece que tá bem com os compradores chineses. Que também estão com ótimo tempo de televisão.

— No fundo o Doria é um cara legal.

— Pois é. Tudo é relativo.

— Agora você falou bonito, Lula. Você conhece a Teoria da Relatividade?

— Não sou muito de teoria. Prefiro a prática.

— Sei disso. Mas Einstein tem o seu valor.

— Não acho.

— Jura? Por quê?

— Companheiro, eu já li muito. Li uma porrada de planilha da Odebrecht. Nunca vi esse nome lá.

— Do Einstein?

— É. Posso te garantir que nunca entrou. E quem não entra em planilha da Odebrecht, pra mim, não tem valor. Ou então é barato demais, o que dá no mesmo.

— Não tinha pensado nisso.

— Tem que pensar mais, Geraldo. Pensar é importante.

— Mas você não disse que me convidou pra vice pelo trabalho pesado, tipo lavar a louça?

— E tem alguma hora melhor pra pensar do que lavando louça? É nessa hora que vêm as melhores ideias.

— Como você sabe, se você não lava louça?

— Deixa de ser burro, Geraldo. Eu só posso saber do que eu faço? O Mensalão, por exemplo: foi o Marcos Valério lavando a louça do PT que apareceu a ideia.

— Genial.

— O Mensalão?

— Genial botar um publicitário pra lavar louça.

— Quem cola em mim tem que ralar. Vai se acostumando. Quem sabe você não me dá uma ideia tão boa quanto a do Valério.

— Não sou tão criativo.

— Ué, você gostou do Mensalão, afinal?

— Genial.

— Mas quando você disputou a Presidência comigo em 2006 você dizia que o Mensalão era roubo.

— Fake news.

— Nem existia essa expressão na época, companheiro.

— É que eu sou um homem à frente do meu tempo. Eu já espalhava fake news antes de existir fake news. Sempre soube que você é honesto, Lula.

— Tá. Então vai lavar a louça pra pensar na besteira que você fez.